
Durante a Semana Mundial da Amamentação, também é importante lembrar que o aleitamento materno não é uma tarefa exclusiva da mãe. O apoio de pais, parceiros e outros integrantes da família tem um papel fundamental no sucesso da amamentação. Desde o suporte emocional até a divisão de tarefas domésticas e cuidados com o bebê, essa rede de acolhimento pode ajudar a mãe a se sentir mais segura e confortável para manter a amamentação pelo tempo recomendado.
Segundo Tatiana Cruvinel, consultora em amamentação e doula, amamentar pode ser desafiador, iniciando-se com a entrada da mulher no puerpério, quando há uma grande oscilação hormonal e privação de sono devido ao trabalho com o recém-nascido. Diante desse cenário, a especialista recomenda que o(a) parceiro(a) acolha, entenda e assuma as responsabilidades junto da lactante.
Tatiana destaca que o parceiro pode exercer um papel fundamental adotando atitudes práticas que aliviem a carga física e emocional da mãe. Isso inclui ser proativo, atento às necessidades dela, além de assumir as tarefas domésticas, seja realizando-as ou mobilizando uma rede de apoio. Dividir os cuidados com o recém-nascido, como dar banho, trocar fraldas, colocar para arrotar e dormir, também é essencial. Cabe ainda ao parceiro resolver questões burocráticas e financeiras do período e buscar ajuda profissional quando necessário, seja para apoiar a amamentação ou para acolher a mãe em suas demandas emocionais.
“Esse envolvimento traz segurança. Ela se sente amparada, sabe que tem com quem compartilhar responsabilidades. Ter um parceiro que apoie a mulher, que mostre confiança no processo e enxergue toda a sua dedicação faz com que ela se fortaleça para enfrentar os desafios dessa fase”, explica.
Mesmo com boas intenções, parceiros podem cometer erros nesse período delicado. Comentários que minimizam sentimentos ou queixas, palavras desencorajadoras ou atitudes impensadas podem gerar estresse e insegurança. Questionar repetidamente se o bebê está com fome ao menor sinal de choro ou sugerir o uso de fórmula sem orientação médica reforça dúvidas sobre a capacidade da mulher de alimentar o filho. A ansiedade do parceiro, quando não acompanhada de informação e escuta, pode ser mais prejudicial do que útil. Por isso, mais do que ajudar, Tatiana ressalta ser essencial estar atento, respeitar os espaços e agir com sensibilidade e proatividade.
Ana Freire, enfermeira atuante em amamentação e terapia intensiva pediátrica, explica que, pela ótica clínica, o apoio do parceiro exerce papel fundamental na redução do estresse materno, diminuindo os níveis de cortisol e favorecendo a liberação de ocitocina, hormônio que auxilia diretamente na descida do leite. Um dos pontos mais relevantes em que o parceiro pode contribuir ativamente é o fortalecimento da autoconfiança da mulher que amamenta, o que impacta positivamente tanto no sucesso quanto na longevidade do aleitamento.
A especialista reforça que há uma expectativa muito alta quanto à autoeficácia da mulher, especialmente nos momentos mais desafiadores, como a primeira semana após o parto. “É compreendido que a sobrecarga existe e que ter uma rede de apoio é essencial para a mulher que amamenta”, diz Ana, lembrando que o parceiro pode e deve compartilhar cuidados com o bebê — como troca de fraldas, roupas, banho e acolhimento no colo quando ele chora — além de buscar informações de forma autônoma, sem esperar que a mulher precise pedir ajuda. “Isso torna o apoio mais prático e eficaz”, explica.
Ana destaca ainda que esse envolvimento tem respaldo em evidências científicas e em diretrizes de instituições como a Organização Mundial da Saúde, a Unicef e o próprio Ministério da Saúde. “Mulheres com apoio ativo do parceiro têm maior taxa de aleitamento materno exclusivo”, pontua. Para Ana, amamentar é um ato compartilhado, que exige atenção, resiliência e disposição. “Uma rede de apoio que oferece escuta faz toda a diferença”, conclui, incentivando que os casais busquem apoio em bancos de leite e consultorias especializadas, garantindo o que há de melhor para a saúde do bebê — o leite materno.
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Pais e companheiros
A força da maternidade é maior que as leis da natureza, disse Barbara Kingsolver, romancista norte-americana. Mas na vida real, muitas mulheres sentem-se exaustas e sozinhas. Por isso, o companheirismo dos pais e parceiros é essencial. E não é um achismo — um estudo desenvolvido pelo Centro Universitário IBMR Barra que constatou que a participação dos pais tem grande influência no aleitamento materno.
Foi o que fez o professor de biologia Abimael Franco, de 29 anos. Para ele, o maior desafio está no aspecto biológico. Por mais que o parceiro deseje ajudar, a impossibilidade de revezar diretamente no processo de amamentação faz com que a mãe se sinta sobrecarregada.
Abimael conta que se dedicou especialmente a auxiliar em outras frentes: tarefas domésticas, organização da casa e alimentação. No entanto, admite que, com o retorno à rotina de trabalho, ficou mais ausente. “Fiquei desleixado após voltar à rotina de trabalho, o que me levou a me concentrar mais nas atividades durante o fim de semana”, confessa.
Ele reforça que o pai tem papel fundamental na manutenção do aleitamento materno, oferecendo apoio moral e emocional à parceira. Mas aponta outro obstáculo: a licença-paternidade reduzida e pouco empática. Pela lei brasileira, os pais têm direito a apenas cinco dias de afastamento. “O segundo maior desafio foi o tempo ridículo da licença-paternidade. É impossível dar apoio integral à parceira em somente cinco dias”, critica o biólogo.
Para Abimael, é justamente do parceiro que deve vir a maior empatia em relação às mães. “Em muitas situações, os homens não conseguem compreender as dificuldades que elas enfrentam. E isso nos leva a minimizar o sofrimento delas, priorizando nossas próprias dificuldades — como o cansaço, o trabalho, a falta de sono”, observa.
Do ponto de vista fisiológico, o corpo da mulher lactante responde de forma positiva quando há apoio. Estudos apontam que essa rede de suporte — especialmente com a participação ativa do pai — estimula a produção e a ejeção do leite, por meio dos hormônios prolactina e ocitocina. Essa experiência pode ser confirmada por Reinildes Sousa Silva, técnica de enfermagem, de 33 anos, e companheira de Abimael.
Para ela, o apoio do parceiro foi essencial, sobretudo nos momentos de maior exaustão. “Me senti muito sozinha no início, porque não sabia lidar com a situação. Mas a parceria entre nós dois fez — e continua fazendo — com que esses primeiros meses da nossa filha, Lívia, sejam cheios de carinho, cuidado e aprendizado.”
A percepção dos pais sobre o aleitamento materno envolve não apenas a importância para o desenvolvimento e a saúde do bebê, mas também o vínculo afetivo gerado nesse processo.
A enfermeira Darlene Loiola, 32 anos, mãe da pequena Aurora, de seis meses, compartilha que o início da amamentação foi especialmente desafiador. “Costumo dizer que é mais difícil do que o próprio parto”, afirma. Ela conta que seu marido, Rafael Lira Vieira, de 30 anos, esteve ao seu lado em todos os momentos.
Rafael admite que não imaginava a complexidade da amamentação. “Tem sido uma experiência transformadora. Ver minha esposa lidando com dor, dúvidas, medo de errar e noites mal dormidas, e mesmo assim persistindo com tanto amor e dedicação, me fez enxergar a força dela de uma forma nova”, relata.
Ao contrário do que muitos pais pensam, ele acredita que a simples presença já faz diferença. “Mesmo sem saber o que fazer, estar junto ajuda muito. Ajudar com a posição do bebê, oferecer água e lanche para minha mulher, cuidar da casa para que ela pudesse descansar, segurar o bebê para arrotar depois da mamada — são gestos simples, mas que fizeram muita diferença para ela”, diz Rafael.
Além da ajuda prática, ele afirma que aprendeu a escutar melhor, acolher as inseguranças da esposa sem julgamentos e reafirmar o quanto ela estava fazendo um excelente trabalho. “Às vezes, tudo o que a mãe precisa é saber que não está sozinha.”
Rafael reconhece que os homens não são preparados — nem incentivados — a participar ativamente do processo de amamentação. “A maioria cresce sem conversar sobre o tema e, quando o momento chega, muitos se sentem perdidos, sem saber como ajudar.”
No caso dele, a formação como enfermeiro ajudou. “Eu já tinha algum conhecimento emocional sobre o processo, o que me permitiu lidar melhor com certas situações, como entender o tempo do bebê, respeitar as fases da amamentação e apoiar minha companheira sem gerar pressão ou atrapalhar.”