
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), encaminhou à Corregedoria Parlamentar, nesta sexta-feira (8/8), uma série de representações contra 14 deputados bolsonaristas que participaram da ocupação do plenário nesta semana. A decisão é fruto de uma reunião com os demais integrantes da Mesa Diretora.
Na quarta-feira (6/8), quando Motta decidiu retomar o controle do plenário, ameaçou suspender por seis meses os parlamentares que obstruíssem os trabalhos. Apesar de ter sido impedido fisicamente por um grupo de deputados do PL e do Novo de chegar à cadeira de presidente e assumir sua posição, não houve decisão para punir quaisquer parlamentares, por hora.
A Corregedoria da Câmara vai analisar cada uma das representações e decidir se elas vão avançar ao Comitê de Ética, que decidirá se punirá e qual será a dosagem de eventuais punições para os parlamentares envolvidos na tomada à força do plenário da Câmara.
Deputados representados:
- Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do PL na Câmara;
- Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara;
- Marcel van Hattem (Novo-RS), líder do Novo na Câmara;
- Nikolas Ferreira (PL-MG);
- Allan Garcês (PP-MA);
- Caroline de Toni (PL-SC);
- Marco Feliciano (PL-SP);
- Domingos Sávio (PL-MG);
- Zé Trovão (PL-SC);
- Bia Kicis (PL-DF);
- Carlos Jordy (PL-RJ);
- Marcos Pollon (PL-MS);
- Paulo Bilynskyj (PL-SP);
- Júlia Zanatta (PL-SC).
As representações acusam os deputados de quebra de decoro parlamentar. Em uma delas, apresentada pelo deputado João Daniel (PT-SE), o parlamentar diz que os colegas agiram “de forma deliberada, coordenada e persistente” para uma “usurpação das funções constitucionais da Mesa Diretora e obstrução ilícita do funcionamento do Poder Legislativo”.
Em outra manifestação, assinada pelos líderes do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ); da Federação PSol-Rede, Talíria Petrone (PSol-RJ); e Pedro Campos (PSB-PE), os parlamentares citam a tentativa do deputado Zé Trovão (PL-SC) de impedir a subida de Hugo Motta à cadeira da Presidência da Câmara.
“Ao submeter o Presidente da Câmara a uma barreira corporal, Zé Trovão comprometeu não apenas o decoro parlamentar, mas também o equilíbrio entre os Poderes da República, ferindo o artigo 2º da Constituição Federal, que impõe a independência e harmonia entre Legislativo, Executivo e Judiciário”, diz um trecho.
Zé Trovão, no entanto, não foi o único a impedir o acesso de Motta à cadeira na noite de quarta-feira. O presidente ficou cerca de seis minutos tentando chegar à sua cadeira, enquanto era bloqueado por parlamentares bolsonaristas.
Quando finalmente chegou, o líder do Novo, deputado Marcel van Hattem se sentou e só saiu depois de uma intensa discussão com colegas. O fato também foi detalhado em representações. “Manter-se na cadeira do presidente caracteriza ato inédito de afronta ao decoro parlamentar”, diz outra representação apresentada pelos líderes da base do governo.
A única que não foi protocolada por um parlamentar da base do governo é de autoria do líder do Republicanos, Gilberto Abramo (Republicamos-MG), contra o deputado Marcos Pollon por, segundo ele, dirigir “expressões ofensivas e depreciativas ao presidente da Câmara” em uma manifestação bolsonarista no último domingo (3).
Na ocasião, o parlamentar chamou Motta de “bosta” e “baixinho de um metro e sessenta”. As ofensas foram registradas em vídeo.
A oposição, por sua vez, rechaçou as representações enviadas por Motta à Corregedoria. Em nota, disse que está em andamento uma tentativa para cassar “mandatos legítimos da direita”.
“É inadmissível que agora, por agir em defesa da liberdade e contra abusos, a oposição seja criminalizada. A simples remessa de uma denúncia à Corregedoria não é sanção alguma", disse a liderança da oposição, comandada pelo deputado Zucco (PL-RS).
Agressão
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, também representou contra uma deputada do PT por um empurrão contra o deputado Nikolas Ferreira na noite de quarta-feira. Trata-se da deputada Camila Jara (PT-MS).
É possível ver, nas imagens da transmissão da Câmara, que o parlamentar estava posicionado atrás da cadeira de Hugo Motta. No mesmo momento em que o presidente se levanta, Nikolas recua e é empurrado por Jara.
Imagina se é o contrário? Esquerda sendo esquerda. Camila Jara, parabéns por mostrar ao Brasil quem realmente você é. Obrigado! pic.twitter.com/wj6qeQuZFj
— Nikolas Ferreira (@nikolas_dm) August 7, 2025
“A deputada federal Camila Jara agiu de forma totalmente explosiva e sem qualquer razoabilidade ou proporcionalidade, buscando apenas promover uma agressão injusta e violenta contra o deputado Nikolas Ferreira”, escreveu Sóstenes, que pediu a suspensão cautelar do mandato da deputada. O pedido, no entanto, não entrou na lista de despachos feitos por Motta na sexta-feira.
A parlamentar negou ter agredido o deputado mineiro. "A deputada federal Camila Jara vem a público esclarecer que reagiu ao empurra-empurra da mesma forma que qualquer mulher reagiria em um tumulto, quando um homem a pressiona contra a multidão", disse a equipe de Jara em nota.
O PT criticou a representação: “É um absurdo a tentativa de afastar a deputada federal Camila Jara para criar uma falsa equivalência ou imparcialidade e forçar a ideia de punição aos dois lados”, disse o líder do PT, Lindbergh Farias. “Houve tumulto atrás da mesa, que gerou um ato reflexo de legítima defesa de uma mulher para proteger sua integridade”, continuou.
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