
Quase nunca ele é lembrado. Somente quando causa algum estrago no organismo. Hoje, Dia Nacional do Colesterol, os brasileiros não têm muito do que se orgulhar, já que os níveis dessa substância em excesso são porta de entrada para quadros graves e irreversíveis, a exemplo de angina (dor no peito), infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), entre outras complicações cardiovasculares.
No Brasil, pelo menos 40% da população adulta têm colesterol alto. São, portanto, cerca de 56 milhões de pessoas acima de 18 anos em uma condição de saúde mais vulnerável, além de 20% de crianças e adolescentes. O quadro é ainda mais grave quando olhamos para os óbitos: a cada ano, 400 mil mortes são provocadas por doenças cardiovasculares, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), muitas das quais decorrentes da hipercolesterolemia.
A maior vulnerabilidade a doenças neurodegenerativas, mais comuns durante a velhice, também tem sido observada por cientistas. Pesquisa britânica publicada, em abril, na revista científica Journal of Neurology Neurosurgery & Psychiatry mostra que manter as taxas de colesterol baixas reduz em 26% o risco de demência por todas as causas e em 28% a possibilidade de ser acometido pelo Alzheimer.
Tão danoso quanto a glicose alta, o colesterol alto é totalmente silencioso, o que faz com que a maioria das pessoas não se preocupe em medi-lo nem em consultar o médico. Vale lembrar dos índices de referência, que ficaram mais rígidos a partir de 2017: abaixo de 190mg/dl para o colesterol total, acima de 40mg/dl (desejável) e acima de 60mg/dl (ótimo) para o bom colesterol (HDL); e abaixo de 100mg/dl (ótimo) e de 100 a 129mg/dl (bom) para o colesterol ruim (LDL). No caso do estudo britânico, os benefícios foram constatados com taxa do LDL abaixo de 70.
Ainda que o Brasil apresente um crescimento ano a ano do número de pessoas com hipercolesterolemia, o Sistema Único de Saúde (SUS) geralmente entra em cena para o manejo das doenças cardiovasculares ligadas a ele. O tratamento para esses pacientes é gratuito, normalmente por meio das farmácias populares, e inclui medicamentos e acompanhamento médico. O ideal, porém, seria o fortalecimento de um trabalho preventivo, voltado para comportamentos capazes de evitar que as taxas de colesterol saiam do controle.
A combinação de dieta saudável e prática regular de exercícios físicos segue sendo a principal recomendação dos médicos. E também um desafio para boa parte dos brasileiros. Insegurança pública, preços elevados de alimentos naturais e tempo excessivo de deslocamento entre casa e trabalho são algumas das barreiras que dificultam homens e mulheres na adoção de novos hábitos.
Não à toa, o país também registra um aumento vertiginoso no número de obesos — doença bastante relacionada ao colesterol alto. Pensar o bem-estar da população em toda a sua integralidade é o único caminho para uma gestão dos gastos públicos em saúde que não tenha que priorizar prontos-socorros e as unidades de terapia intensiva. A urgência é cara. E a prevenção salva vidas.