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Uma luz para a primeira infância

Temos de ficar atentos e cobrar que as medidas previstas na Política Nacional Integrada da Primeira Infância sejam tratadas — por todos os entes — com a prioridade que as crianças têm direito e merecem.

Ainda persiste no Brasil a mentalidade de que machucar crianças, mesmo em tenra idade, é uma forma de discipliná-las  -  (crédito: pacifico)
Ainda persiste no Brasil a mentalidade de que machucar crianças, mesmo em tenra idade, é uma forma de discipliná-las - (crédito: pacifico)

Pesquisa da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, divulgada nesta segunda-feira, trouxe dados preocupantes sobre a percepção da sociedade a respeito da primeira infância, período que vai do nascimento aos 6 anos de idade. O levantamento, feito em parceria com o Datafolha, mostrou, entre outros pontos, como ainda persiste no Brasil a mentalidade de que machucar crianças, mesmo em tenra idade, é uma forma de discipliná-las. Dos entrevistados, 29% admitiram que usam práticas violentas, inclusive com meninos e meninas de até 3 anos. Além disso, 43% disseram que gritam e brigam com as crianças; e 58%, que as colocam de castigo.

Outro recorte revelou que mais da metade da população brasileira (84%) não considera esses anos iniciais de meninos e meninas como fundamentais para o desenvolvimento físico, emocional e de aprendizagem. Na avaliação de 41%, o pico do desenvolvimento ocorre a partir dos 18 anos; e, para 25%, na adolescência. Somente 15% mencionaram a primeira infância. A pesquisa foi feita com 2.206 pessoas em todo o país, 822 delas responsáveis diretas por crianças de até 6 anos.

Também chama a atenção o fato de que 96% dos entrevistados consideram que o respeito aos mais velhos é mais importante para o desenvolvimento infantil do que deixar a criança livre para brincar (63%) e do que colocá-la em creche e pré-escola (81%). "Isso mostra como valorizamos a obediência acima de experiências fundamentais para o desenvolvimento pleno, como brincar, que é um dos principais meios de aprendizagem da criança pequena, e a frequência à creche e à pré-escola", enfatizou Mariana Luz, CEO da fundação, no site da entidade.

Os dados nos dão um vislumbre do tamanho do desafio que temos como país para garantirmos a proteção e o desenvolvimento completo de crianças, especialmente nos primeiros anos de vida, determinantes para a evolução cognitiva, física e emocional delas.

Na última terça-feira, o governo lançou a Política Nacional Integrada da Primeira Infância, com a promessa de ser um novo marco para a proteção e o desenvolvimento de crianças. Vi elogios de especialistas à série de ações previstas, com envolvimento de União, estados e municípios, mas sabemos que há um abismo entre a teoria e a prática. Temos de ficar atentos e cobrar que as medidas sejam tratadas — por todos os entes — com a prioridade que as crianças têm direito e merecem.

 

postado em 07/08/2025 06:00
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