
Flávia Moretti — representante da World Press Photo no Brasil
O fotojornalismo é um convite à contemplação ativa do nosso tempo. Quando uma lente registra o instante exato em que uma mãe abraça o filho resgatado de um desastre, quando flagra o momento do gol que leva um time a vencer o campeonato ou expõe momentos de destaque de uma manifestação popular à luz do entardecer, não estamos apenas diante de uma imagem: vemos a história ganhar forma, cor e significado.
A boa fotografia não paralisa um momento; ela convoca. Uma referência ao poder mobilizador das imagens jornalísticas cercadas de muito talento pessoal e excelência profissional. Uma foto realmente impactante provoca uma reação, convida à reflexão crítica, engaja público e, muitas vezes, incentiva uma ação prática — seja doar, cobrar autoridades, compartilhar informação ou simplesmente repensar atitudes pessoais e coletivas.
Países com liberdade de imprensa robusta, como o nosso, prosperam quando repórteres visuais circulam sem barreiras, documentando desde sessões parlamentares até manifestações de rua. O resultado é um espaço público mais transparente, onde cidadãos dispõem de registros confiáveis para formar opinião e exigir respostas.
O fotojornalismo é um excelente instrumento ante a onda incessante de fake news que nos atinge, amarga nosso direito ao acesso à comunicação verdadeira, ao privilegiar a manipulação em detrimento da democracia. Incentivar o fotojornalismo é também proteger o direito de ver, conhecer — e, portanto, de escolher caminhos sociais mais justos. Essa carreira profissional é cercada pela emoção que gera engajamento. Seu produto, a fotografia, desperta empatia instantânea. Tem a capacidade de, com clareza, ajudar a transformar a indignação em demanda, já que pode oferecer evidências visuais irrefutáveis, ou seja, argumentação para o debate público sobre variados temas. Uma foto marcante fica gravada na memória coletiva e serve de combustível para manter acesos quaisquer debates.
Mas o valor social dessa prática contém ainda um vigor econômico e cultural. Essa abordagem complementar sobre o fotojornalismo acontece graças a iniciativas já consagradas, como a exposição itinerante World Press Photo 2025, edição anual deste que é um concurso internacional de fotojornalismo e fotografia documental, organizado pela World Press Photo Foundation, desde 1955.
A mostra gratuita percorre algumas capitais brasileiras, inclusive Brasília, a partir de 14 de agosto. É um momento de convite à sociedade para celebrar muito mais do que um desfile de fotografias premiadas; trata-se de um patrimônio social que amplia horizontes, fortalece a democracia e aciona a empatia coletiva.
As imagens vencedoras desta edição destacam também obras de profissionais do Brasil. Percorrem temas como crise climática, migração, infância em zonas de conflito e superação cotidiana. Em cada quadro, há, claro, a "luz que denuncia" desigualdades e violações, mas há, sobretudo, a luz que revela soluções, resiliências e gestos de solidariedade. É essa claridade positiva que costuma mobilizar cidadãos e governos para agir. No Brasil, por exemplo, o impacto simbólico de fotos que mostraram a devastação das enchentes no Sul em 2024 — e, na mesma reportagem, o esforço dos voluntários — ajudou a multiplicar doações e pressionou gestores públicos a acelerar a reconstrução de pontes e estradas.
O componente artístico também merece destaque. Fotografar é pintar com luz, e a curadoria do prêmio comprova que beleza e jornalismo não são antônimos. Um enquadramento estudado, a coreografia dos elementos no quadro, o domínio da cor ou do preto-e-branco — tudo isso provoca um encantamento que facilita a passagem da informação bruta à compreensão afetiva.
Ao abrir suas portas para o público brasiliense, a World Press Photo 2025 reafirma tudo isso: a potência de uma imagem verdadeira, o impacto positivo de narrativas visuais bem contadas e a necessidade de apoiar quem arrisca o próprio olhar para que nós possamos ver melhor. A fotografia jornalística, afinal, não é apenas a luz que denuncia; é a luz que revela caminhos, indica pontes, inaugura diálogos. Quando valorizamos essa luz, iluminamos a todos.