ARTIGO

Corte de gastos como medida urgente

O controle dos gastos públicos é uma necessidade para garantir não apenas a saúde fiscal do Estado, mas também para promover o desenvolvimento social e econômico

. -  (crédito: Freepik)
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Alfredo Cotait Neto — presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB)

Tem sido difícil encontrar uma palavra  no nosso rico idioma  para definir a atual situação político-econômica do Brasil. Instabilidade jurídica e desarranjo institucional, talvez, resumam o que está ocorrendo. Diante de tudo isso, a parcela afetada assiste, inerte: população produtiva, empreendedores criativos, trabalhadores que querem fazer o país andar para frente. O principal pano de fundo econômico de todo esse contexto é o problema no orçamento público. Orçamento que não reserva verba para investimento, motor para que as economias evoluam e o país progrida. A ferramenta Gasto Brasil — coordenada pela Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), em parceria com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) — aponta que o gasto com pessoal em 2024 foi seis vezes maior do que o montante dedicado aos investimentos.

O número, além de chocar, levanta questionamentos: qual a qualidade desse gasto com despesas obrigatórias? Que retorno ele traz à população e ao setor econômico? Uma análise mais aprofundada da plataforma Gasto Brasil mostra que as despesas do governo federal são divididas em 28 categorias. Dessas, 11 representam 96% do total das despesas. As duas maiores, previdência e despesas com pessoal e encargos, são 60% do total. Para tentar reverter o quadro, o governo anuncia aumento de impostos. O Congresso freia. O Judiciário é acionado. Enquanto isso, a conta não fecha. Pelo contrário. O fosso aumenta e não vai parar de crescer enquanto medidas estruturais não forem adotadas.

É preciso buscar eficiência no uso do dinheiro público. O Brasil tem alta carga tributária, e achar que a solução é o aumento de impostos chega a ser um erro primário. Não há outro caminho. O Estado não vai aguentar mais por muito tempo. O Brasil está perto de uma situação crítica. Precisa de liberdade econômica para encontrar um caminho de prosperidade. Governantes e gestores têm que encontrar formas de controlar despesas obrigatórias e aumentar a arrecadação — sem sufocar a economia. O Estado brasileiro precisa custar menos para dar espaço aos investimentos.

Além desse problema estrutural, há as questões políticas e internacionais, que refletem diretamente no ambiente econômico. Como exemplo, podemos citar a queda de braço em relação à cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Executivo, Legislativo e Judiciário envolvidos, enquanto os empreendedores paralisam projetos e aguardam o desfecho sem saber como fica a regra final. Na sequência, veio o tarifaço, anunciado pelo governo americano. Outra surpresa negativa que também requer diálogo, sabedoria, consenso e muita diplomacia para que as consequências não piorem ainda mais a capacidade de investimento. Se o Brasil fosse um país com bases econômicas sólidas, esses fatos não previstos gerariam menor incerteza. Mas, como buscar essa solidez? É quando voltamos ao tema central: a necessidade de cortar gastos. 

Nosso Estado é pesado, lento e pouco criativo porque carrega um sistema com todas essas proporções: peso, demora e práticas antigas. Nesse caminho, o deficit é inevitável. Com ele, faltará dinheiro para investimentos em áreas básicas, como segurança, transporte, educação e saúde. O controle dos gastos públicos é uma necessidade para garantir não apenas a saúde fiscal do Estado, mas também para promover o desenvolvimento social e econômico.

A ferramenta Gasto Brasil nos proporciona a possibilidade de — até como cidadãos — atuarmos como fiscalizadores. É um estímulo para que toda sociedade verifique com transparência e atue de forma ativa para coibir que o Brasil siga sendo um país que não prioriza os investimentos. Os empreendedores estão prontos para esse debate. Há soluções inovadoras e saídas que podem ser copiadas de outros países, por exemplo. Os setores precisam ser ouvidos. É preciso criar ambientes de discussão, de troca de ideias. Empreender no Brasil não pode continuar sendo um ato de coragem solitária. É o momento de se discutir avanços estruturais, antes que seja tarde. 2026 está aí, com corrida eleitoral. Mas 2025 ainda tem cinco meses pela frente. Que sejam de progresso e avanços.

 

Por Opinião
postado em 04/08/2025 11:59 / atualizado em 04/08/2025 12:26
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