
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) confirmou que a dragagem dos pontos críticos do Rio Amazonas começará na primeira quinzena de setembro, em uma ação estratégica para assegurar o tráfego seguro de embarcações durante o período de estiagem.
A operação utilizará uma draga hopper (TSHD) — embarcação de grande porte e alta capacidade, capaz de remover sedimentos de forma contínua e eficiente, sem a necessidade de paradas frequentes para recalque de material, como ocorre com dragas de sucção tradicionais.
O equipamento permitirá, segundo o Dnit, manter o calado de 12,8 metros, conforme as normas da Marinha, garantindo a passagem de navios de grande porte pelos dois trechos mais críticos do rio, que é a Foz do Madeira e o Tabocal.
O anúncio foi feito pelo diretor de Infraestrutura Aquaviária do Dnit, Edmar Tavares de Albuquerque Filho, durante reunião em Brasília com o presidente-executivo do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Lúcio Flávio Morais de Oliveira, e o assessor de relações governamentais, Saleh Hamdeh.
Tavares explicou que a definição pelo uso da draga hopper foi resultado de um intenso trabalho técnico. “Chegamos a um denominador comum, técnico, depois de muita discussão. O objetivo é garantir o calado de 12,8 metros, de forma a manter a navegação segura e contínua, sem a repetição dos problemas de 2023 e 2024”, afirmou. Segundo ele, a escolha também considerou alternativas de traçado para evitar áreas de alto assoreamento e reduzir a necessidade de retrabalho.
O diretor do Dnit comentou ainda que o estudo é complexo, pois vai além do território nacional. Ou seja, apesar de o serviço ser realizado em território nacional, é preciso negociar com a Marinha peruana, já que o rio Amazonas nasce no Peru, na Cordilheira dos Andes, e deságua no Oceano Atlântico, no Brasil. Ele percorre territórios do Peru, Colômbia e Brasil, sendo o principal rio da bacia amazônica. A bacia amazônica abrange sete países da América do Sul, incluindo Bolívia, Equador, Guiana e Venezuela.
“Precisamos aplicar bem os recursos, evitando dragar em locais que rapidamente voltarão a assorear. Esse planejamento é essencial para que a obra tenha resultado duradouro”, explicou Tavares.
Impactos
A preocupação não é nova. A estiagem do rio Amazonas em 2023 foi uma das piores da história, com recordes de baixa nos níveis dos rios e impactos significativos na região amazônica. A seca afetou comunidades ribeirinhas, a fauna e a flora, além de causar prejuízos econômicos, principalmente nas indústrias que fazem parte do Polo Industrial de Manaus (PIM), também conhecido como Zona Franca de Manaus (ZFM).
O fenômeno interrompeu rotas fluviais, encareceu o transporte com sobretaxas de “pouca água” e isolou comunidades inteiras. Houve impactos ambientais graves, como a mortandade de peixes e botos em lagos da região, e prejuízos econômicos significativos para a indústria e o comércio, que precisaram reorganizar suas cadeias de suprimento para manter o abastecimento.
Foi nesse contexto que os representantes das indústrias, na figura do Cieam, intensificaram a interlocução com o governo federal para garantir soluções estruturantes antes que a seca avance. Lúcio Morais de Oliveira destacou a importância de agir preventivamente, ressaltando a importância da hidrovia para a região.
“Mesmo com melhorias rodoviárias em andamento, a hidrovia do Amazonas continua sendo vital para o Polo Industrial de Manaus e para o abastecimento das comunidades amazônicas. Nosso objetivo é acompanhar de perto, cobrar e fiscalizar para que a dragagem seja realizada com qualidade e no prazo estabelecidos”, frisou.
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O contrato firmado com a empresa responsável pela dragagem prevê medições de volumetria e calado, de forma a garantir que o pagamento esteja vinculado ao efetivo cumprimento das metas estabelecidas. “Mais importante do que o volume dragado é garantir que o calado esteja dentro do necessário. O foco é evitar desperdício de recursos e assegurar que o serviço atenda ao que foi planejado”, reforçou Edmar Tavares, do Dnit.
A dragagem contemplará dois pontos estratégicos — a Foz do Madeira e o Tabocal —, considerados gargalos para a navegação comercial na rota que liga Manaus aos portos do Atlântico. A meta é permitir que embarcações de grande porte possam transportar tanto insumos industriais quanto produtos acabados sem interrupções, além de assegurar o transporte regular de combustíveis, alimentos e suprimentos para a população ribeirinha.
Ainda para Tavares, a transparência no processo e o acompanhamento próximo da execução são determinantes. “Trata-se de um serviço que impacta diretamente a vida de milhões de pessoas e a economia da Amazônia. É preciso fazer bem feito, dentro do prazo e com fiscalização permanente”, finalizou.