Guerra comercial

Tarifaço: plano de contingência segue para o Planalto

Segundo Haddad, as medidas pensadas para ajudar exportadores já estão na mesa de Lula, aguardando aprovação

Fernando Haddad afirmou que o plano de contingência para socorrer empresários afetados pela tarifaço seja concluído nesta quarta-feira (6/8) -  (crédito: Reprodução)
Fernando Haddad afirmou que o plano de contingência para socorrer empresários afetados pela tarifaço seja concluído nesta quarta-feira (6/8) - (crédito: Reprodução)

O governo está próximo de anunciar um plano de contingências para auxiliar os setores atingidos pela tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o documento já está pronto e foi apresentado ainda nesta quarta-feira (06) ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

"Nós procuramos entender a encomenda do presidente em relação ao detalhamento. Nós dissemos para ele que a questão, empresa por empresa, não precisa, evidentemente, ser retratada em lei", comentou Haddad, ao indicar que a proposta seguirá para o Congresso em forma de medida provisória "para entrar em vigor imediatamente".

O ministro confirmou que o plano prevê a concessão de crédito para as empresas mais impactadas pelo tarifaço e criticou a oposição por estar "atrapalhando o país", ao misturar temas políticos com econômicos. "O governo vai fazer a parte dele e isso eu posso garantir. Mas é preciso uma ação coordenada das forças nacionais. Estou falando do empresariado, estou falando dos governadores, estou falando de todos, para inibir um crime de lesa-pátria que está sendo cometido diariamente", disse, ainda, o ministro.

Segundo fontes do Planalto, a intenção de Lula é criar um programa de garantia de emprego, com suporte para setores afetados, especialmente os pequenos exportadores. O governo considera que o impacto orçamentário deve ser pequeno e compensado com outras medidas ainda não reveladas.

De acordo com um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), publicado ontem, cerca de 8 mil itens serão taxados com tarifas adicionais anunciadas desde o início do mandato do presidente dos EUA, Donald Trump. Esse número representa 77,8% de toda a pauta exportadora entre as duas nações.

Ao todo, 10.298 produtos foram identificados dentro da pauta exportadora entre Brasil e Estados Unidos neste levantamento. Na avaliação do presidente da CNI, Ricardo Alban, os dados revelam a "dimensão do problema enorme" que o país terá de enfrentar e o quanto será necessário avançar nas negociações para reverter esses entraves comerciais.

"É um trabalho que precisa envolver governos e os setores produtivos. Os EUA são os principais parceiros comerciais da indústria, precisamos encontrar saídas", frisa Alban. Ainda de acordo com o levantamento, cerca de 41,4% da pauta exportadora brasileira aos EUA, que representa 7.691 produtos de diversos setores, está sujeita à alíquota máxima de 50%. Em 2024, a exportação desses bens alcançou US$ 17,5 bilhões.

Uma projeção realizada pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) ainda prevê que o prejuízo do país com esta nova tarifa pode chegar a US$ 32 bilhões — o que equivale atualmente a R$ 175 bilhões — em exportações na próxima década. Itens como café e suco de laranja produzidos no Brasil representam mais de 30% do consumo norte-americano. Os Estados Unidos também são o segundo maior comprador de carne bovina e de frango brasileiros.

Na avaliação do coordenador de Comércio Internacional da BMJ Consultores, Vito Villar, setores como café, açúcar, frutas e carnes devem estar entre os primeiros impactados pelo tarifaço. "Bens manufaturados, incluindo automóveis, máquinas e eletrônicos, também devem ser afetados, com risco de queda expressiva nas exportações e possíveis interrupções nas cadeias de suprimentos", considera o especialista.

É importante destacar que as aeronaves e suas peças não entram na lista do tarifaço. Também ficaram de fora outros produtos amplamente comercializados, como minério de ferro, madeira e celulose, combustíveis, veículos de passageiros, eletrônicos, fertilizantes e determinados produtos à base de ferro, aço e cobre.

Para o advogado e mestre em propriedade intelectual pela George Washington University e sócio da SPLAW Advogados, Benny Spiewak, o Brasil tende a ser mais afetado com o encarecimento dos produtos nos EUA do que, propriamente, o consumidor norte-americano. "Ainda que os EUA sofram impactos em setores que importam insumos brasileiros, a imposição me parece calibrada para atingir setores estratégicos do Brasil, inclusive com uma intenção de exigir respostas regulatórias brasileiras", pontua o especialista.

Negociações

Haddad e o vice-presidente Geraldo Alckmin ainda negociam, na tentativa de reverter a taxação. O ministro da Fazenda, inclusive, confirmou que terá uma reunião virtual com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent.

A advogada especializada em agronegócio, Thaisis Carolina Lessa, avalia que o ideal para o Executivo seria, em um primeiro momento, a adoção de medidas diplomáticas para negociar diretamente com o país impositor das tarifas. "Em um segundo momento, caberia ao Brasil buscar novos mercados para o escoamento da produção, visto que atualmente é de grande escala. No entanto, tal redirecionamento representaria não apenas um desafio logístico e comercial, mas também o enfraquecimento da presença e influência do país no cenário internacional, gerando grandes prejuízos econômicos e estratégicos a longo prazo", destaca.

O melhor caminho hoje para a negociação, segundo a advogada, seria uma conversa diplomática bilateral com o EUA, buscando entender os reais motivos dessa imposição e apresentar medidas de flexibilização. "Essa é a via menos traumática para o nosso país, que envolve negociação técnica e política, devendo demonstrar que o país não apresenta uma ameaça."

postado em 07/08/2025 03:39
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