MEDICINA

Proposta de médico brasileiro muda abordagem de doenças metabólicas

Em artigo em revisão científica, o médico Amélio Godoy propõe uma nova visão sobre doenças como diabetes tipo 2 e esteatose hepática: "Tudo começa no fígado"

Durante a apresentação, o médico Amélio Godoy defendeu uma nova forma de olhar para as doenças metabólicas — com foco no papel do fígado e na gordura acumulada em locais estratégicos do corpo. A proposta pode mudar o entendimento sobre diabetes tipo 2, obesidade e doenças hepáticas -  (crédito: Rede D'Or)
Durante a apresentação, o médico Amélio Godoy defendeu uma nova forma de olhar para as doenças metabólicas — com foco no papel do fígado e na gordura acumulada em locais estratégicos do corpo. A proposta pode mudar o entendimento sobre diabetes tipo 2, obesidade e doenças hepáticas - (crédito: Rede D'Or)

Uma mudança de perspectiva pode transformar a forma como doenças metabólicas são compreendidas e tratadas. O médico endocrinologia, mestre e doutor em ciências médicas Amélio Godoy propôs, em revisão científica, que o ponto de partida dessas condições, antes atribuídas apenas ao pâncreas ou ao excesso de peso, pode estar, na verdade, no fígado e no tipo de gordura acumulada no corpo. Para ele, não importa apenas o local onde se engorda, mas também onde não há acúmulo de gordura. 

A proposta acompanha a recente mudança internacional no nome da chamada “doença hepática gordurosa não alcoólica” (NAFLD, na sigla em inglês), que agora passa a ser chamada de MASLD (doença hepática esteatótica associada a disfunção metabólica). “O antigo nome colocava a culpa na ausência de álcool, como se isso definisse a doença. Mas o problema não é o álcool, é o metabolismo”, explica Godoy.

Segundo ele, a nova nomenclatura ajuda a reforçar a principal causa da condição: obesidade e distúrbios metabólicos, como diabetes tipo 2. “Não importa se você engorda, importa onde você não engorda”, enfatiza o médico. 

Segundo Godoy, o tecido adiposo abdominal (visceral) é o que mais oferece riscos, enquanto a gordura glúteo-femoral, nos quadris e coxas, é protetora.

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Além disso, quando o corpo não consegue armazenar gordura onde deveria, ela passa a se acumular em órgãos como fígado, pâncreas, rim e coração, num fenômeno chamado de gordura ectópica. É esse depósito indevido que pode dar início a uma cascata de distúrbios metabólicos.

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O magro metabolicamente obeso

Outra proposta importante da revisão é prestar atenção em pacientes com peso aparentemente saudável, mas com sinais de doenças metabólicas, os chamados “magros metabolicamente obesos”. “Essas pessoas não têm gordura visível, mas apresentam alterações típicas de quem tem obesidade: triglicérides altos, glicemia alterada, HDL baixo”, destaca.

Essa condição é associada, muitas vezes, a lipodistrofias, que são falhas na formação ou armazenamento de gordura. Por isso, ele alerta: nem todo magro está saudável, e muitos casos passam despercebidos pelos médicos.

A revisão propõe uma nova classificação das doenças cardiometabólicas em quatro estágios, iniciando com a disfunção do tecido adiposo e avançando para acúmulo de gordura ectópica e falência de órgãos.

Para Godoy, o que antes era visto como doenças separadas — hepática, cardiovascular, renal, diabética — deve ser compreendido como parte de um único espectro de desordem metabólica. “Não adianta pensar só que é do rim, só que é do fígado, ou só do coração. A doença é uma só. É metabólica”, defende.

A revisão assinada por Amélio Godoy convida médicos e cientistas a olharem além dos exames de sangue ou da balança. Para ele, a chave está no tipo e no local da gordura, e o caminho para o tratamento passa por compreender o corpo como um sistema interligado.

Como funciona

O Congresso Internacional de Cardiologia da Rede D’Or São Luiz é realizado de 7 a 9 de agosto, no Windsor Barra Hotel, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Serão discutidos temas relevantes da prática clínica do cardiologista, com apresentações interativas e discussão de casos clínicos. A programação foi planejada para abordar toda a complexidade da cardiologia.

* A jornalista viajou a convite da Rede D’Or.

postado em 08/08/2025 11:35
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