
Em um mundo apressado pelo consumo, os brechós relembram que as roupas não são descartáveis como parecem. Entre araras e cabides, histórias são guardadas em roupas que viveram outros dias, outras casas e outros corpos. Ao escolher uma peça de segunda mão, escolhe-se também um gesto de cuidado com o planeta. A Ceilândia recebe, neste sábado (9/8), mais uma edição do Remoda — Feira de Brechós: Festival de Moda Circular —, evento que se consolida como um dos maiores encontros de moda sustentável do Distrito Federal.
Com entrada gratuita, a feira acontece das 11h às 18h, na Praça da Estação do Metrô, na Ceilândia Centro, reunindo mais de 60 expositores, além de oficinas, desfiles e música ao vivo. Criada em 2021 por Rafaela Lacerda, de 22 anos, moradora da região e estudante de design de moda, o Remoda vai além da venda de roupas de segunda mão. É um festival que propõe um novo olhar sobre consumo, estilo e identidade, especialmente a partir da perspectiva periférica.
"Estou muito feliz em fazer parte dessa revolução da moda, especialmente neste momento em que economizar e cuidar do planeta é cada vez mais importante. A moda sustentável é o futuro e nós já estamos nele", afirma. "A gente quer que as pessoas vejam a moda como uma ferramenta de transformação social, e não só como consumo", completa Rafaela.
A feira oferece ao público uma variedade de roupas, calçados, acessórios e peças autorais, com valores a partir de R$ 5. Além de fomentar a economia criativa local, o evento promove práticas sustentáveis, como o reuso e a customização de peças, com destaque para o workshop ministrado por Jane Alves, produtora cultural especializada em reaproveitamento têxtil.
"Sempre fui apaixonada por moda, mas entendi cedo que a forma como a indústria funciona tem um impacto muito grande no meio ambiente e nas pessoas. Quis criar algo diferente, acessível e responsável. O Remoda nasceu desse desejo", explica Rafaela, que também assina a curadoria do evento e participa de um desfile autoral ao lado da artista Rosangela Moreira Buerger.
A programação conta com discotecagem dos DJs Fellet e Ocimar, e um desfile protagonizado pelos próprios expositores, mostrando as possibilidades criativas que a moda circular oferece.
Vozes da feira
Entre os expositores confirmados, está o designer de moda e radialista Fred Dias, 40, de Vicente Pires, criador do Acervo Curinga Brechó, que participou de mais de 20 edições do evento. Para ele, o Remoda é uma plataforma de democratização da moda.
"Os brechós propõem uma nova forma de consumir moda: mais livre, acessível e diversa. A moda circular traz, além de muito estilo, um ato de consciência. Ao dar uma nova vida às roupas já existentes, reduzimos o impacto ambiental, incentivamos a economia circular e valorizamos a história por trás de cada peça", afirma Fred. "A indústria da moda está entre as que mais poluem o planeta, e os brechós surgem como alternativa ética e sustentável de consumo", completa.
A microempreendedora Adriana Bezerra, 43, do Recanto das Emas, é outra presença marcante na feira. "A importância do projeto vai além da reeducação ambiental. É também uma ferramenta de inclusão social e econômica. Muitos de nós não teriam condições de manter um espaço físico, e o Remoda nos dá essa oportunidade de conexão com o público que busca o diferencial do second hand", destaca.
Com expectativa de receber milhares de visitantes, o evento será realizado em área ampla e arejada. O evento também contará com opções de gastronomia, artesanato e música, promovendo o encontro entre criadores e consumidores em um ambiente diverso.
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira